Pensar em formato, utilidade, estética e conceito para um produto é a função de um designer. Porém, alguns profissionais vão além do convencional e buscam alternativas para dar outros significados ao processo criativo. Uma das saídas que driblam o modo de produção tradicional é o Ecodesign, tendência que levanta a bandeira da responsabilidade social e ambiental na confecção de objetos. Um exemplo de um nome promissor na área é a designer gaúcha Valesca Bender. As ideias ecologicamente corretas dela foram premiadas em importantes concursos da área nos últimos anos.
O Ecodesign é uma forma de produzir que não exclui nenhuma possibilidade de reaproveitamento. Para os adeptos desta vertente, o lixo não é um cemitério de materiais inúteis, mas sim um mundo que permite novas roupagens. E o mais curioso: a origem da matéria-prima em nada interfere no estilo e charme do resultado. O trabalho premiado de Valesca, que é tanto design de jóias como de mobiliário, é uma prova de que dos resíduos podem surgir peças cheias de autenticidade e de bom gosto.
O olhar que permitiu a criação de peças como a cadeira Eco Help, premiada no concurso nacional da Escola de Artes Criart, de 2010, e das jóias que ganharam no concurso Jóias do Brasil, na categoria Materiais e Técnicas Alternativas em 2007, foi construído desde a adolescência. “Meu interesse pela área de design, mais especificamente Ecodesign, surgiu na adolescência. Influência dos meus pais que sustentaram a família através da reciclagem de prata proveniente de resíduos gráficos e fotográficos”, contou Valesca.
Não demorou muito para ela começar a dar os próprios passos e, a exemplo dos pais, encontrar uma forma de aproveitar as oportunidades. Tudo começou com a confecção de jóias, tanto que Valesca se formou em Design com ênfase em Jóias pela Universidade Luterana do Brasil. “Meu irmão e eu começamos a criar e confeccionar coleções de jóias a partir desta prata reciclada, e vender para joalherias. Logo depois fui braço direito de uma engenheira de fundações durante alguns anos. Isso me trouxe mais paixão pelo desenho. Tanto que acabei investindo na carreira.” E foi na universidade - período em que, ao contrário de outros colegas, só fazia testes com materiais reutilizáveis - que ela desenhou as peças que foram premiadas em um dos maiores concursos de jóias do país.
As peças “Pendente Mix” e o anel e pingente “Equilíbrio” são feitos de madeiras descartadas de marcenaria e prata reciclada. As jóias foram destaque no concurso Jóias do Brasil em 2007 não só pela beleza da peça, mas também pela técnica de confecção. “São peças feitas a partir da técnica de encaixes e dobraduras. Este modo foi pensado por sua sustentabilidade e por trazer benefícios à saúde da pessoa que faria confecção das peças, já que reduz a solda e, consequentemente, a emissão de gases.”
Materiais recicláveis servem como matéria-prima inclusive para a confecção de jóias |
O sucesso do seu trabalho fez com que Valesca começasse a percorrer outros caminhos do Ecodesign. As experimentações com mobiliário surgiu neste momento de expansão de sua carreira. E as ideias dela são sempre encontradas no dia a dia. “A ideia da cadeira EcoHelp surgiu assim: um dia o pneu da minha bicicleta furou durante uma volta. Na oficina do ciclista me deparei com muitos pneus se deteriorando em um depósito. Comecei a questionar o dono sobre o que faziam com os pneus velhos. Quando ele me disse que recortava para colocar em sacos de lixo e ser levado na coleta comum sem que fosse percebido, veio o insight!." A criação de Valesca, que ganhou o júri do concurso nacional da Escola de Artes Criart do ano passado, é feita com 12 pneus de bicicleta e a estrutura de cadeiras e sofás antigos. E a mensagem está no próprio nome da peça, EcoHelp. A cadeira lembra um formato da letra “H” e o nome em inglês é, assim como sugere a tradução, um pedido de socorro.
Unir beleza e um ideal de sustentabilidade em suas peças é o mote do trabalho desenvolvido pela designer, que acredita que somente desta maneira estaremos usando da racionalidade em busca de uma vida com mais qualidade. “O processo de design sustentável passa por um longo caminho que se preocupa inclusive com a inclusão de pessoas em risco social. Além da beleza das linhas e formas dos objetos, ele tem que ser funcional. A beleza de um objeto está em fazer o bem e o bem estar. Um trabalho de design consciente vai além do objeto. Não temos como isolar os processos. Seja ele criativo, produtivo ou de interação do usuário com o objeto, tudo impacta na sociedade ou no meio ambiente de alguma forma.”
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