Caixa de surpresas

Há uma nova maneira de chegar ao consumidor e influenciá-lo em suas futuras escolhas: as "samples boxes".

13/02/2014 19:09 / Por: Ana Carolina Valente
Caixa de surpresas

A evolução das tecnologias de informação e da comunicação impõe uma redefinição do espaço de trabalho, lazer, relacionamentos e consumo. Na era digital, o indivíduo pode partilhar a mesma tecnologia independentemente do local onde estiver: em casa, no trabalho, em viagem, nas compras ou realizando transações bancárias. A pressão constante em relação ao uso da internet – em constante evolução e aperfeiçoamento – torna-se cada vez mais evidente em todas as áreas, e isso não é diferente na comercialização de produtos.  O mundo assiste à integração e à implementação de novos meios que permitem uma maior rapidez e eficácia na troca de informação – e consequentemente, nas compras. Hoje é mais rápido efetuar uma compra por site do que ir a um shopping, enfrentando o trânsito e a dificuldade em encontrar uma vaga para estacionar. Cada vez menos será o consumidor a deslocar-se às lojas, e cada vez mais serão os produtos que virão até ele. Comprar sem abrir mão do conforto (e por que não dizer do “luxo de estar no próprio lar”?) de casa parece ser cada vez mais a hipótese acertada numa altura em que a flexibilidade se tornou um dos assuntos na ordem do dia.


A tecnologia evolui cada vez mais e o que parecia intangível, concretizou-se: redes sociais saíram do universo digital e ganharam a vida real. Pelo menos para os consumidores ansiosos pelo novo, que se tornaram assinantes de “samples boxes”, em tradução livre, “caixas de amostras”. E de fato são belas caixas que, quando o cliente efetua sua assinatura anual, são entregues – mensalmente – em domicílio, revelando amostras que trazem (geralmente em miniaturas) os mais variados produtos: de cosméticos, passando por comidinhas naturais, até vinhos.



A proposta de diminuir o tamanho é para aumentar a sua utilidade, justamente facilitando a vida do usuário ao conhecer o produto em suas diversas vertentes, em aromas, gostos, espessuras, cores etc. – instigando assim, posteriormente, o consumo do produto no tamanho convencionalmente fabricado (tendo apenas o empecilho de ser um lançamento ou pela área de distribuição). No Brasil, ainda em fase de expansão, o serviço tem tomado forma e adeptos, tanto no público feminino (cosméticos, produtos naturais, lingeries e cervejas – por que não?), quanto no masculino (vinhos, uísques, barbeadores e cuecas).

Luciana David, publicitária e comunicóloga, tem 24 anos e é ávida pelas “ultimíssimas” novidades no mercado. Assinante das samples e tendo muito que contar, explica detalhamente sobre essa realidade de ir muito além, sem sair do seu “mundinho”. Seu primeiro contato com as “samples boxes” aconteceu ainda de longe, lendo sobre o serviço que já existia nos Estados Unidos e lamentando que ainda não houvesse entregas para o Brasil. “Foi assim até que ouvi o burburinho no nicho de beleza, sobre o qual eu escrevo, a respeito das primeiras caixas com maquiagens, cosméticos... Aí assinei, há algum tempo”, explica. “Como também sigo uma linha de alimentação natural, assinei uma com esse foco. Além de uma sobre cerveja também”.



A publicitária se diz completamente viciada em miniaturas e amostras, sobretudo pela praticidade de “poder experimentar algo novo com baixíssimo custo, se comparado ao tamanho original”. Para ela, é esta a maior vantagem ao obter esses produtos, ao lado da facilidade de transporte e do design inovador. “Minha bolsa vive cheia de amostras, assim como quando viajo, porque também priorizo levá-las pelo espaço. Além do mais, beleza e alimentação saudável estão cada dia mais em alta, o que permitiu que essas opções de sample boxes pudessem se abrir pra ambos os mercados”.

Até agora, no mercado brasileiro, os produtos mais populares são os de beleza. As desejadas caixinhas com amostras de cosméticos e maquiagens ganharam a simpatia de it girls no país inteiro, principalmente as de marcas famosas e respeitadas na indústria da moda. Por outro lado, o serviço ainda deixa a desejar e precisa ser melhorado – como qualquer novidade em seu momento embrionário carece de se aperfeiçoar. “Os de beleza são populares, mas ainda não vejo nenhuma empresa desse nicho atendendo bem. Em compensação, a de produtos naturais que assino é fantástica. Vale muito a pena. Dá pra perceber que o cuidado com a seleção é enorme e que ele se paga. A relação custo-benefício é ótima”, analisa David. Como os serviços possuem parcerias com as marcas que fornecem os produtos, a grande dificuldade parece ser uma questão de logística. De acordo com a demanda, nem sempre é possível enviar exatamente os mesmos itens para todos os assinantes, o que seria o adequado. “Daí você vê alguém postando uma caixa que recebeu, fica encantada, assina o serviço e recebe coisas bem diferentes. Assim não funciona. Eles realmente precisam resolver esse problema de unificar o conteúdo”.

O preço, o conforto e a ansiedade de conhecer os lançamentos antes do resto do mundo são os três esteios que justificam a paixão repentina pelas tais caixas – além, naturalmente, da possibilidade de adquirir mais conhecimento e experiência sobre produtos e assuntos antes não visitados. Quando associadas ao serviço bem prestado, a fórmula fica mais forte; e o crescimento da nova prática parece irrefreável. “O boca a boca ganha muito mais que qualquer propaganda. A coisa está crescendo, popularizando, mas só tende a durar se as empresas passarem a respeitar mais os clientes”, avalia Luciana. Sim – não são poucos os problemas que se apresentam. Há casos de fraude, de atraso e de problemas para cancelar a assinatura, por exemplo. “São coisas básicas que jamais deveriam acontecer”, afirma. “Sem falar que alguns serviços são bem ruins, cobram um valor e a caixa não vale nem metade do preço. Onde vejo mais problema é no segmento de beleza. Eu mesma só assinei esses serviços depois de um tempo do lançamento, pra ver a avaliação das pessoas. Acho que a partir do momento em que eles conseguirem resolver esses problemas de unificar o conteúdo da caixa para todos os assinantes, o serviço vai deslanchar”. Um dos caminhos para melhorar as ainda incipientes caixas de amostra é expressar as insatisfações junto às empresas. É importante que os assinantes deem seus feedbacks. “Esses serviços geralmente enviam questionários para avaliar a satisfação do cliente. Acredito que esse seja o meio deles para conseguirem melhorar e emplacar”.

Para os mais empolgados com as miniaturas, há promoções que deixam o consumo mais em conta e ainda garantem o recebimento regular das amostras. É o caso das opções de plano trimestral e semestral, que vêm com desconto. Apesar disso, Luciana acredita que a facilidade ainda é o maior atrativo. “Sei lá, acho que o próprio serviço, quando bem feito, já tem esse efeito. Tudo é realizado tendo o cartão de crédito como forma de pagamento”. A dica para evitar prejuízos e não se deparar com os infortúnios que eventualmente ocorrem nas entregas é a de sempre: cautela. “Pesquise bastante sobre o serviço, sobre edições anteriores e avalie se vale a pena para você. A utilidade da assinatura varia de acordo com o interesse da pessoa”. A comunicadora é uma das maiores entusiastas do serviço novo. Entre os prós e contras das caixinhas, ela não pretende deixar de se valer da proximidade com o que há de mais novo no mercado. E garante que, ao menos para seu estilo de vida, vale a pena. “Bom, como sou apaixonada por miniaturas e amostras desde sempre, é bem viciante. Receber novidades em casa é sempre bom”.

Essas caixinhas surpresas entraram no mercado, ganhando cada vez mais adeptos. O conceito é simples e teoricamente sua execução também. Atualmente há diversas opções para que sejam ajustadas especialmente a você e quem quer assinar uma só, fica na dúvida entre qual escolher. Na variedade de estilos e produtos com diferentes preços e focos – como para mamães e seus meninos – encontramos aquelas que são consideradas do “bem”: não trabalham com marcas que fazem os testes em animais, utilizam produtos integrais, orgânicos, sustentáveis, ecológicos ou naturais. E como essa linha está invadindo cada vez mais o mercado, quem não tem muita cultura orgânica e integral é uma ótima oportunidade de conhecer produtos novos. Para quem procura maior qualidade de vida, cuidar do meio ambiente, gosta de exercícios e comidinhas naturais, torna-se uma excelente opção. Mas é bom ter em mente que você não vai receber apenas produtos de beleza, também vai receber barrinhas nutritivas e outras coisas do tipo.

Na continuidade de vínculo de emoção, descoberta, inspiração e desbravamento das pequenas caixas, converso com a webdesigner Brenda Araújo, 24 anos. Por meio de comentários e matérias nas redes sociais e blogs sobre a novidade, ela, curiosa, foi atrás para ver se valia a pena pagar pelo seviço. Apresentando o atrativo diferenciado da assinatura em troca de milhas, a jovem foi adiante e fez uma anual premium: as caixinhas são de luxo que incluem produtos nacionais e importados muito bons e também têm um preço mais elevado. “O conteúdo é muito interessante, recebia maquiagem e produtos de limpeza de pele de marcas conhecidas, conceituadas e embalagens diferenciadas”.

Geralmente ao se inscrever nos sites, o (futuro) assinante preenche um cadastro de preferências, gostos e tipos de pele, tipo do cabelo, marcas, faixa de preço etc. Essas escolhas serão aplicadas em alguns casos e o assinante poderá receber alguns produtos de acordo com suas preferências. O problema todo é que a caixinha é imprevisível e, na maioria das vezes, os produtos são padrão para todos os assinantes. Em um mês pode vir uma “super caixa” e todos os produtos agradarem, e no próximo, nem tanto assim. Tal surpresa nem sempre pode ser agradável, segundo a designer. “Nunca sabemos o que vem na caixa, os kits são montados de acordo com preferências como cor e tipo de pele, as caixinhas são surpresa, você não pode escolher os produtos que vai testar.” Já o lado positivo da surpresa faz com que pessoas, como ela mesma, experimentem produtos que provavelmente não comprariam em outra situação. Eis que o objetivo das caixas é alcançado. “Se eu tivesse visto antes o que vinha nas caixas, não teria assinado o serviço, não conhecia uma boa parte dos produtos e algumas marcas por achar que não teriam utilidade pra mim, então foi muito bom ter esse acesso.” O mais importante na hora de assinar esse tipo de serviço é ter em mente que há altos e baixos, e que se você odiou a caixinha desse mês, a do próximo pode ser melhor.
Na comodidade que o serviço oferece, sem possibilidade de contestações, a questão custo benefício vem aliada sempre ao novo: “você paga, sim, pela novidade. Em uma das edições, veio com uma ‘Guerra de Shampoos’ para que experimentássemos o de lavagem a seco antes mesmo da campanha publicitária sair na internet e televisão!”

As reclamações devido à linguagem crítica de atendimento existente no Brasil, giram em torno de que algumas marcas tenham crescido muito rápido e estejam encontrando dificuldades para administrar a demanda, deixando cair o padrão de produtos. “Assinei a premium, recebi produtos bons, claro, mas poucos das marcas que realmente gostaria de receber”. Há inúmeras expectativas para que vire tendência com foco das grandes marcas e distribuidores no mercado brasileiro. “Parte das pessoas que assinam esse tipo de produto no Brasil são formadores de opinião como autores de blogs especializados em maquiagem ou moda que acabam promovendo os produtos experimentados. O problema desses serviços é que eles encontram várias dificuldades, como o serviço de entrega, custo de materiais etc.” Inclusive alguns tiveram que descontinuar suas atividades no país devido os custos operacionais do serviço serem muito altos, impossibilitando de continuar cumprindo o compromisso de qualidade. Uma perda para muitos, principal para os críticos e clientes.

Expandindo ou não a zona de conforto, as novas samples boxes são isso: o desejo pelo novo e a expectativa de acesso ao excelente. Em nosso país, o que nos resta é arriscar, ousar, se atrever. Com realidades diferentes de acesso, é transformador ver o quanto é criativa a tentativa de ganhar o consumidor. É necessário apoiar, fuçar e dar retornos ao mercado para que o serviço popularize e sejamos totalmente beneficiados com ele. Mostrando-se em miniaturas ou em full size, as novidades podem chegar quentinhas até você. É uma questão de escolha. E coragem.

Mais matérias Empreendedorismo

publicidade