Veja bem

18/02/2023 09:00
Veja bem

Vou contar um segredinho aos mais jovens: depois dos 40 anos você não enxerga mais nada de perto. É humilhante. Meus braços começam a esticar pra poder ler algo. Espremo os olhos na esperança que as letras desembaralhem, mas não adianta, agora preciso de óculos pra ler as mensagens do celular.

Eu sempre tive olhos de Thundera, com visão de longo alcance. Também achava uma delícia ler meus livros antes de dormir, sob a luz do abajur. E, de repente, perdi esse superpoder. Resisti por um ano, até o limite do meu braço não dar mais conta. Fui na oftalmo. Um grau e meio, ela sentenciou.

No início, me empolguei. Comprei armações lindas de óculos. Ficou um charme! Mas chegou o dia em que esqueci os óculos em casa e fiquei absolutamente dependente do meu namorado. Ele é míope. Então, eu leio as placas das ruas lá longe e ele lê o menu do restaurante. Eu enxergo super bem de longe e ele de perto. Feitos um para o outro. Melhor que sinastria amorosa.

Brincadeiras à parte, perder a capacidade de enxergar com nitidez o que está perto, me fez refletir sobre a chegada da maturidade.

Arthur Schopenhauer, um filósofo de quem gosto muito, dizia que “Vista da juventude, a vida é um longo futuro; a partir da velhice, parece um curto passado. Quando partimos num navio, as coisas na praia vão diminuindo e ficando mais difíceis de distinguir; o mesmo ocorre com todos os fatos e atividades de nosso passado”.

Bingo!

A natureza é muito sabia mesmo. Apesar de ser uma mulher bem ativa, com um corpo super disposto, entendi que, com o tempo, é melhor não enxergar as coisas tão de perto. Manter um certo distanciamento nos dá uma visão mais ampla e justa do que está ao nosso redor.

A minha vista não está falhando, mas sim, ampliando o meu campo de visão. Me fazendo relevar erros meus - e dos outros - que já ficaram no passado. A partir dos 40, se tudo der certo pra quem sempre teve a vista “perfeita”, nada precisa estar tão perto, uma vez que a sabedoria e intuição tomam as rédeas da vida.

Estou disposta a usar meus óculos quando tiver que ler um bom livro e sigo enxergando cada vez melhor as coisas da vida a uma certa distância.

Por fim, aproveito pra fazer um apelo. Mandem áudio no WhatsApp. Além de adorar ouvir vozes e todas as suas entonações, me poupa o tempo de catar os óculos pra poder ler a mensagem escrita. Não há “kkk” que substitua uma gostosa gargalhada em áudio. Não me façam ir nos ajustes do celular, clicar em “acessibilidade” e aumentar o tamanho de texto na tela. Isso, jamais!

Mais matérias Leila Loureiro

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