É inevitável, diante da proximidade do dia de Finados, dedicar um tempo à memória daqueles que não mais estão entre nós. Depois que a dor ameniza, a natureza humana vai reconstruindo suas conexões com lembranças felizes.
Creio que os mexicanos são um povo que nos ensina muito sobre a reverência aos que já partiram: você pode (e deve) viver o luto, mas no dia de los muertos, é proibido ficar triste. Daí, ocorre uma cena curiosa, para dizer o mínimo: os cemitérios são iluminados, famílias inteiras vão para lá cantar, relembrar seus entes e, de quebra, ainda levam os pratos favoritos deles (em vida). É uma celebração de vida, sobretudo, que demonstra que somos finitos e, como tal, devemos viver intensamente o agora - não por acaso, ele se chama presente.
Os norte-americanos, por sua vez, fazem os “services” com cada um levando um prato. Há sempre um brinde à memória de quem partiu.
No Peru, as famílias simples saem em cortejo e vão recebendo doações aonde quer que passem.
Minha saudade diária é de mama Jussara. Já falei em várias outras oportunidades de quão magnífico era o bolo dela de amendoim, de sua cobertura de chocolate sobre o bolo branco simples. Em nosso lar, que era simples, sem grandes afetações, um perfume alimentava nossos dias e ele vinha da cozinha sempre. Lembro de me esconder sob a mesa da cozinha. Ali eu me sentia acolhida, protegida… ao mesmo tempo em que me sentia parte de algo muito especial. Hoje eu sei que não estava enganada.
Recordo-me do perfume suave dela, nada que brigasse com os aromas das panelas e do forno, até que concluo que se a saudade é uma palavra única, único também é o sentimento que nos conecta a ela.
Tenho outras saudades: do cheiro do mato, da chuva que cai sobre o asfalto quente, sinto falta do cheirinho dos meus filhos quando eram bebês. E você pode estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com o tema? Tudo! Vivamos enquanto há tempo, saúde, presença. Tentemos eternizar tão somente aquilo que vale a pena ter registrado em nossas mentes e corações. Os filhos, diria Saramago, nos são emprestados; as chuvas caem em horários diferentes, e o mato pode dar espaço ao pasto. Portanto, viver é inadiável. Que seja eterno enquanto dure!
Uma receitinha para matar a saudade:
- Chocolate quente cremoso
- Ingredientes
- 1 lata de leite condensado
- 400 ml de leite integral líquido
- 1 lata de creme de leite
- 1 colher de amido de milho
- Chocolate meio amargo em pó (eu sugiro três colheres bem cheias)
- Uma colherzinha de canela (se você gostar)
Em uma panela, coloque o leite condensado e dilua-o em 400 ml de leite comum. Dissolva o amido de milho em água, junte à panela e acrescente o chocolate meio amargo em pó a gosto. Misture tudo e leve ao fogo baixo, mexendo sem parar. Quando ficar mais espesso, desligue e junte o creme de leite.
Sirva quente em xícaras grandes e espalhe um pouco de canela (se gostar).