Belém tem uma característica muito única, à medida em que o Círio vai ficando mais próximo: suas ruas e casas cheiram à maniçoba! Não, não há exagero em minhas palavras. Pergunte a um paraense ou alguém que tenha visitado a cidade em outubro.
Que o paraense tem essa relação umbilical com a comida, é público e notório, mas fica ainda mais evidente durante a quadra nazarena. É uma loucura conviver com o perfume da maniva sendo cozida – difícil até de concentrar! E, à medida que vão sendo acrescidos os embutidos, as carnes, é difícil resistir à vontade de bater na porta do vizinho e pedir uma xícara... de maniçoba.
E o cheiro das mangas? Sim, porque em outubro as mangueiras ficam carregadas (para desespero dos motoristas e felicidade de 99% da população) e vão ao chão amarelinhas, perfumadas. Caiu verde? Sem problema! Junto um tico de sal e vai da mesma forma.
Que dizer do cheiro das ervas, dos banhos de cheiro e dos preparados, garrafadas? Patchouli, catinga de mulata, priprioca, pau d’angola, cumaru... É uma profusão de aromas que perfumam o mercado do Ver-O-Peso: o cheiro do pescado fresco; do açaí sendo batido; das frutas frescas, dos peixes e camarões secos... além dos cheiros das encantarias do Pará. Mais encantador que isso tudo é o sentimento de pertencimento que fica mais evidente em cada um de nós, paraenses, que temos orgulho desta terra; que compreendemos a sabedoria da floresta, que respeitamos o tempo das coisas.
Algo explode no meu peito quando falo de quão privilegiada eu sou por morar no coração do mundo; algo reacende em mim, cada vez que sinto aquele cheiro característico que invade as narinas, sem pedir permissão e que desembarco em Belém: a nossa terra tem um cheiro muito característico, tal qual o asfalto quente tem quando chove. É cheiro de lar. E lar, como sabem, é todo lugar em que você pode dizer: ‘coloca mais adubo na maniçoba, que tem mais gente vindo pro almoço!”.
Feliz Círio. Feliz nosso Natal de perfumes e reencontros com nossa história.