As lições que Belém ensina

A colunista Ângela Sicilia fala sobre Belém, uma cidade de rios e comida em abundância, mas que precisa ser cuidada.

04/01/2022 15:08 / Por: Angela Sicilia
As lições que Belém ensina

Belém tem peculiaridades. “Todas as cidades têm”, você, leitor, pode argumentar. Eu sei: dependendo do tamanho de nossa estima, cada local tem detalhes que são gigantes aos nossos olhos.

Falo da “cidade das mangueiras” porque ela está no berço (amo essa expressão). “Onde vai ser hoje?”, perguntam aos aniversariantes do dia. “Bora tomar uma gelada?”.

Belém carrega enorme generosidade no olhar, nos gestos, nas árvores. As mangueiras matam a fome de tantos (não falemos dos pára-brisas estourados neste texto). Aos paraenses, é irresistível não juntar a manga que acaba de cair.

Os paraenses não sabem fazer pouca comida, não importa a ocasião, mas se for Círio, aí é rancho para batalhão. Sabem ser solidários como poucos - talvez porque nascer na Amazônia imprima isso aos nossos códigos genéticos. Como amazônicas que somos, indígenas em essência, queremos partilhar. A mãe que manda comida pro porteiro; a galera das escolas que se quotiza porque um colega está sem dinheiro. “Coloca um pouco de água no açaí pra render um bocado mais”; “pega aqui uma cuia de farinha”.

A cidade nos ensina a amar o rio, a água, a chuva. Pena que o sistema de drenagem das águas não funcione muito bem e temos prejuízos, mas sempre ouviremos, resignadamente, “que é tempo dela”, portanto que não nos aborrecemos com os torós do dia a dia.

Temos essa relação linda com a fé, que faz com que não só católicos comunguem da convivência com Nossa Senhora de Nazaré: vejo muitos paraenses, de tantas outras religiões, se irmanando, vivendo o ensinamento maior.

E o que dizer do orgulho de ser daqui? De gritar “não venha forte, que sou do Norte!”. A verdade é que Belém precisa de mais cuidado, de mais investimento… porque amor, generosidade… bem, isso ela tem aos montes.

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