A tradicional chuva da tarde caía forte naquela terça nublada, quando a equipe da LiV se preparava para mais uma entrevista. Enquanto os equipamentos eram montados, o entrevistado do dia chegou, cumprimentando gentilmente a todos. O local era a Estação Cultural de Icoaraci, e a simplicidade do jovem tímido que se apresentava até poderia camuflar, para quem não o conhecia, de que se tratava de um artista de reconhecimento internacional. O distrito de Icoaraci recebia ali um de seus cidadãos mais notáveis: Labô Young.
Se você nunca ouviu falar neste nome, a esta altura já deve estar admirado com o trabalho mostrado nestas páginas. O currículo do artista de apenas 26 anos impressiona: Labô figura na lista dos cinquenta talentos mais inovadores do mundo, realizada em 2020 pelo British Fashion Council, além de ganhar sua própria página no site do respeitado Instituto Moreira Salles, apenas para citar alguns feitos.
O germinar de um talento
“Sempre tive essa coisa do instinto criativo, de estar sempre produzindo coisas dentro da minha vivência, da minha casa, no meu quintal”, conta Labô sobre seu despertar na arte.
O artista teve o privilégio de crescer dentre a flora amazônica e, com espécies como a palmeira-leque, fazia os próprios brinquedos, que mais tarde evoluiriam para experimentações artísticas despretensiosas com amigos.
Colhendo frutos
Postando suas criações na internet, Labô rapidamente chamou a atenção de Ib Kamara, stylist requisitado por marcas como Burberry e Louis Vuitton. Convidado por ele, o icoaraciense teve seu debut internacional na capa do jornal Le Monde. “Foi quando eu tive que entender que aquilo que eu fazia era um trabalho”, afirma.
Por dentro da trama
Sua intimidade e afeto com a terra se expressam através de um processo criativo instintivo. Quase todas as suas produções usam somente a amarração das folhas. “Quando eu vou criar um look, preciso criar ele no momento, na hora. [É como se] o corpo da pessoa fosse moldando o look. [...] O corpo vai conversando muito dependendo do material”, declara.
Além da chuva, também pairava no ar a questão: quais os próximos passos da carreira? “Eu não consigo me enxergar nem daqui a cinco meses”, declarou, entre risos. Labô deseja voltar a fazer música, escrever, e dirigir produções. Por enquanto, não há planos de sair do Pará, mas o artista tem projetos em mente.
A naturalidade está no estilo de Labô, em sua personalidade, e no modo com que encara a carreira. Enquanto a chuva se tornava garoa, marcando o fim da tarde e do nosso encontro, declarou: “eu não tenho noção de como as pessoas me enxergam, porque sei lá, eu moro bem aqui, a dois, três quarteirões. Eu sou essa pessoa, sabe? Que mora na Baixada Fluminense, Icoaraci. Pra mim, é isso”.
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