Já a norte-americana Forever 21, que chegou no início do ano ao Brasil causando frisson, foi bastante criticada por não ter trazido sua linha de tamanhos maiores, que, segundo foi prometido pela loja, deve chegar nos próximos meses. “É claro que ainda falta bastante para que o Brasil e o mundo democratizem, de fato, a moda em todos os sentidos – e não só no financeiro, o que já conseguimos. Mas acredito que estamos no caminho certo”, defende Felicia.
Para conseguir entender quem é a tal mulher real, as empresas de moda contam com uma série de dados provenientes de pesquisas de público, como os reunidos pela Associação Brasileira do Vestuário (Abravest) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Recentemente, essas instituições mostraram que mais de 50% dos brasileiros estão acima do peso e que o mercado plus size chega a movimentar anualmente R$ 4,5 bilhões, o que representa 5% do faturamento total do setor do vestuário em geral. E esse número tende a aumentar, já que a Abravest aponta também que o mercado em questão cresce cerca de 6% ao ano.
Mas não são apenas esses dados que influenciam as marcas no momento de confeccionar suas coleções. Mulheres comuns servem cada vez mais de inspiração e exercem influência significativa nesse processo, como Juliana Romano, autora do blog Entre Topetes e Vinis, cuja proposta é conversar com qualquer mulher que não se encaixe nos padrões impostos pela sociedade. Jornalista, Juliana já trabalhou para vários veículos e seu blog é indicado pela revista Nova Cosmopolitan.
No blog, Juliana monta looks, conta as novidades do mundo fashion, dá dicas de produtos de moda e beleza, fala de maquiagem, entre outros assuntos. Com quase 71 mil seguidores no facebook, a blogueira foi chamada pela Xica Vaidosa, marca brasileira especializada em plus size, para produzir uma coleção com a sua cara. “As blogueiras estão muito mais próximas da mulher real do que as modelos que estamos acostumados a ver nas passarelas. Então é natural que muitas vezes elas consigam pensar não só no que é bonito, mas também no que é prático, confortável, no que dá certo no dia a dia”, explica Felicia.
Experiências semelhantes viveram a recifense Camila Coutinho, do blog Garotas Estúpidas, e a mineira radicada nos Estados Unidos Camila Coelho, do Super Vaidosa. Ambas foram chamadas pela Riachuelo para assinar coleções com seus nomes. O primeiro já foi apontado como um dos cinco blogs de moda mais influentes do mundo e conta com uma média de seis milhões de visualizações mensais. Já a outra Camila começou a chamar atenção com seus tutoriais de maquiagem e hoje assina até uma linha de esmaltes.
A coleção “Torcida Fashion”, pensada para a Copa do Mundo, foi assinada por Camila Coutinho para Riachuelo; e a Coelho, depois de assinar uma coleção de outono inverno inspirada em Nova York, acaba de lançar sua segunda parceria com loja, agora de primavera-verão. Embora sejam vistas e tratadas como celebridades, essas blogueiras se aproximam da mulher real na medida em que colocam a moda em prática e conseguem perceber o que realmente tem chance de vingar e o que se resume à beleza conceitual de passarela.
Diante desse cenário, podemos portanto dizer que a fonte de inspiração vem mudando? “Até pouco tempo atrás, as grandes lojas que hoje chamamos de fast fashion tinham, na verdade, pouco de fashion. Eram lojas funcionais que vendiam roupa básica por um preço acessível. Com o tempo, passaram a se inspirar nas tendências das passarelas mundiais e aplicar isso às suas coleções. Hoje, uma nova e rica fonte de inspiração surge com as influências que vêm dos blogs. Mas não podemos dizer que uma coisa substitui a outra, mesmo porque as blogueiras são bastante ligadas na tal moda conceitual, de passarela”, explica Felicia.
Para Felicia, é inquestionável que as blogueiras são fonte de inspiração para milhares de mulheres e, acima de tudo, geram processos de identificação nas pessoas que, de uma maneira ou outra, se veem nelas. “Acho positiva a participação das blogueiras na produção de moda porque isso acaba levando a uma democratização maior deste mercado. Mas as marcas precisam tomar alguns cuidados. A grande maioria destas meninas não tem formação em moda, por isso, precisam ser supervisionadas por profissionais. Caso contrário, caminharemos rumo a um amadorismo não mais desejado ou esperado na atualidade”, encerra.