Crítica: Black Mirror - 6ª Temporada

Série retorna em boa retorna, mas derrapa

30/06/2023 17:10 / Por: Laylton Corpes / Fotos: Divulgação
Crítica: Black Mirror - 6ª Temporada

O futuro parece nada promissor. Pelo contrário, ele é perverso e revela o pior do que há na humanidade. Pelo menos isso é o que acredita Charlie Brooker, e sua criação, a série Black Mirror. A sexta temporada chega após um bom hiato, e dá até para dizer que a pausa fez bem à produção, que retorna com pegada dos episódios clássicos. Entretanto, alguns passos derrapam e soam discrepantes quando vistos como um todo.


Cena do primeiro episódio, Joan is Awful. (Netflix/Divulgação)

A antologia britânica com distribuição pela Netflix retorna um tom mais crítico - como dito antes, algo visto nas primeiras temporadas - e se afasta um pouco de tecnologias caricatas vistas em episódios como Nosedive e Crocodilo, trazendo abordagens de temas como o true crime, a falta de discrição dos algoritmos e até mesmo a espetacularização midiática. A busca por criticar um mundo conhecido e criar uma realidade aterrorizante dá muito certo em alguns episódios. Outros voltam no passado para contar possibilidades de um mundo que, como de praxe, revela o pior de cada um.


A seguir, uma breve crítica de cada episódio.


Joan is Awful

Joan is Awful ou “Joan é Péssima” abre a temporada, e dá para entender muito bem o porquê. A sátira bem humorada traz a Netflix, ou melhor, a Streamberry como a algoz de uma mulher comum, a partir do momento em que decide fazer uma série sobre a própria vida dela sem consultá-la. A crítica se dá nas entrelinhas não lidas dos famosos termos de uso e também nos algoritmos cada vez mais indiscretos. Com participação especial de Salma Hayek como ela mesma (!), o episódio em narrativa metalinguística reserva muitas surpresas e é estarrecedor como um bom episódio de Black Mirror deve ser.


Loch Henry

O segundo episódio da temporada desce a tonalidade e vai sem gracinhas. Loch Henry é uma narrativa sombria, que conta a história de um casal, Davis (Samuel Blenkin) e Pia (Myha’la Herrold) em uma trama que traz o clima de um thriller da HBO. Aqui, o problema é muito mais real e aborda a onda desenfreada do gênero true crime e a exploração sem limites éticos. Este é mais um acerto da produção, que consegue criar uma atmosfera de horror sem exageros.


Beyond the Sea

Diria que esta é a cereja do bolo da temporada, ainda que no meio dela. Beyond the Sea se passa em um distópico ano de 1969 e conta a história de dois astronautas, Cliff (Aaron Paul) e David (Josh Hartnett). Neste mundo, é possível transferir consciências para réplicas terrestres e amenizar a falta sentida pela família na Terra. O episódio aborda um tema clássico em Black Mirror: a moral e ética humana, com pano de fundo de ficção científica e que nos traz um exercício de reflexão. A direção de John Crowley com a atuação de Aaron Paul combinam em um episódio primoroso e memorável para a série.


Mazey Day

O curto episódio também traz um ar nostálgico, mas para outra geração mais recente. Em 2006, a paparazzi Bo (Zazie Beetz) recebe a enigmática missão de capturar fotos da atriz Mazey Day (Clara Rugaard), que está desaparecida após deixar a produção de seu último filme. Com claras críticas ao sensacionalismo e a falta de privacidade, o episódio destoa um pouco das temáticas já abordadas na série ao apelar para um horror mais simplório. 


Demon 79

Em Demon 79, a sensação é de continuidade se compararmos com o que foi visto no episódio anterior. Segundo Brooker, a ideia era criar uma série irmã, “Red Mirror”, mas que acabou por se tornar um selo da antologia. A ficção científica fica de lado no enredo que traz a protagonista Nida (Anjana Huq), como uma assassina a mando do demônio Gaap (Paapa Essiedu). Uma escolha interessante mas um pouco estranha, Demon 79 quase fugiria ao tema Black Mirror se não apresentasse o bom e velho tom político com temas como racismo e xenofobia.


Anjana Huq em Demon 79. (Netflix/Divulgação)

Em suma, é possível dizer que a sexta temporada da série é aproveitável, e entrega o entretenimento visto em anos anteriores. Claro que não em sua melhor forma, já que a sensação é a de uma certa perda de magia. Será que o mundo real se tornou Black Mirror demais?


Confira o trailer: 




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