Esta é a primeira vez que falo de um filme que não foi lançado recentemente. Na verdade, para mim, já se tornou um clássico, mesmo que tenha sido disponibilizado somente há pouco na Prime Video. Os Outros, obra de Alejandro Amenábar, é um daqueles longas imortalizados pelo tempo, principalmente por suas características de uma obra distinta, como pouco se costuma ver.

Em Os Outros, Nicole Kidman é Grace, uma esposa e mãe devota que, com os dois filhos, aguarda a chegada do marido em uma gigantesca mansão vazia. Tensa a todo momento, Grace orienta os novos empregados da casa a sempre manter portas trancadas e cortinas fechadas, já que as crianças sofrem de uma rara doença que as torna sensíveis à luz. Claro, nenhuma dessas precauções os mantém salvos das assombrações que assolam o lugar.

O pano de fundo é a Segunda Guerra Mundial, um obscuro período em que, no mínimo, medos e incertezas afligiam a mente das esposas. E isso é perfeitamente traduzido na direção de Amenábar, onde tudo é sombrio, morno e obscuro. Isso se reflete até mesmo nos figurinos dos personagens, que parecem estar sofrendo um luto. A certo ponto, a neblina presente parece sufocar quem assiste. De certa maneira, a intenção parece ser essa: mergulhar naquele mundo desolador de Grace.

A sensibilidade de Amenábar une drama e horror além dos óbvios jumpscares, comuns no gênero. Aliás, essa poderosa combinação lembra muito o trabalho de Mike Flanagan no contemporâneo A Maldição da Casa Hill, antes mesmo da obra existir. Por outro lado, o longa se sustenta mesmo na entrega máxima de Nicole Kidman, em uma de suas mais brilhantes atuações. Grace é ríspida, sensível, humana e a maior defensora de seus filhos, que são o centro das atenções.

Esqueça o óbvio: Os Outros vai um pouco mais além, apesar de manter os clichês. Amenábar entrega pistas e detalhes sobre as verdadeiras intenções de seu roteiro de forma lenta, mas sagaz, e lentamente nos vemos magnetizados diante da tela. Amenábar consegue nos prender, impressionar e acima de tudo, tocar no cerne.

Aliás, vale lembrar: o plot twist do longa é famoso, talvez um dos mais conhecidos do cinema. Todavia, ele se torna um mínimo detalhe, já que o importante mesmo é a jornada desta grande obra. Em suma, Os Outros é um clássico não tão contemporâneo, mas que ainda assim, vale a pena ser visto.

Avaliação:  ★ ★ ★ ★ ★ (excelente)