O diretor Darren Aronofsky é conhecido por seus filmes que dividem a crítica e o público, o famoso ame ou odeie. E em A Baleia, estrelado por Brendan Fraser, não seria diferente. A obra conta a história de Charlie, um homem que sofre de obesidade mórbida tentando recuperar a relação com sua filha, Ellie (Sadie Sink).
Se você já ouviu falar nos trabalhos de Aronofsky, sabe que o diretor explora aspectos psicológicos como ninguém, levando os astros ao extremo. Mas esqueça a espiral até a loucura de Nina Sawyers (Natalie Portman) em Cisne Negro, ou a descida ao inferno de Jennifer Lawrence em Mãe!. Aqui, a jornada do personagem de Brendan Fraser é dolorosamente sentimental e tocante.
A Baleia é um filme visceral. A visão dramática e pessimista do diretor causa contraste com a dócil personalidade de Charlie, que consegue enxergar o melhor de cada um, exceto em si. O tímido professor de escrita criativa se priva até mesmo de ser visto nas aulas remotas, envergonhado com sua aparência.
Baseado em uma peça teatral de 2012, é entendível que o filme seja ambientado em poucos cenários, o que pode causar uma certa claustrofobia em quem assiste. A direção de câmera aprisiona o telespectador na residência de Charlie, num mundo reprimido e compulsivo que nos força a confrontar o que está sendo visto.
Fraser ressurge em Hollywood, mesmo que nunca tenha parado de trabalhar, de fato. O ator foi vítima de um assédio sexual em 2003, e decidiu se ausentar dos holofotes por conta de uma depressão diante o crime, atuando em produções muito mais modestas. A Baleia põe Brendan dignamente nos holofotes, ironicamente de maneira oposta às comédias e aventuras que o consagraram no passado. Aliás, ele é preterido na categoria de “Melhor Ator” no Oscar, o qual foi indicado. Para o papel, o astro incorporou próteses que aumentaram sua aparência, que levavam horas para ficarem prontas.
Difícil mesmo é não se emocionar, mesmo que não se conheça o contexto pessoal vivido pelo astro. Junto à atuação esplêndida de Hong Chau (O Menu), como a ácida enfermeira Liz, ou a revoltada Ellie de Sadie Sink (Stranger Things, Rua do Medo), o mundo de A Baleia parece ser pequeno diante da que, sem dúvidas, é a melhor papel da carreira de Brendan Fraser. Cabe aqui mencionar que o longa é mais um sucesso da A24, estúdio que vem sacudindo as estruturas da sétima arte (vide: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo).
Justo dizer que o título do filme não faz jus à sua beleza e sensibilidade, diante do enredo que não trata somente da obesidade e os complexos que ela carrega (um pequeno spoiler: tem a ver com o clássico Moby Dick). A Baleia é uma obra sobre paixão, arrependimento, medos e fragilidades, e acima de tudo, amor.
A Baleia está disponível nos cinemas de todo o país.