A Confeitaria Colombo faz parte da identidade cultural e culinária do Rio de Janeiro. Uma das suas missões, além do bom atendimento e das boas receitas, é o resgate dessa memória gustativa e cultural da cidade, um Rio que viveu o esplendor da belle époque – por isso, muitas informações sobre a Colombo ainda são um tesouro escondido.
Manuel Lebrão, um português da região do Minho, fundador da Colombo, chegou em terras brasileiras, sem dúvida, à procura da sorte de uma vida melhor, talvez encantado com a lenda da árvore das patacas, como dizia o imperador d. Pedro I, “o dinheiro no Brasil dá em arvores ...”.
Brincadeiras à parte, a jovem e elegante senhora da belle époque faz 125 anos mais “inteirona” do que nunca, plena de saberes, sabores e histórias para contar. Em 1894 nascia a Colombo, na rua Gonçalves Dias, números 34 e 36, a partir de uma sociedade entre Manuel José Lebrão e outro imigrante português, Joaquim Borges de Meireles que, algum tempo depois, saiu da sociedade. No prédio simples funcionava uma fábrica de doces, armazém de secos e molhados, restaurante, serviço de catering e refinaria de açúcar. Os cozinheiros e confeiteiros, além do pessoal de salão, vieram de Portugal, Áustria, Hungria, Alemanha e Suíça.
Lebrão era um homem sábio e tinha ideias inovadoras para a época: dava muito valor ao trabalho e no primeiro ano distribuiu 20% dos lucros da empresa aos funcionários. Estes trabalhavam com afinco. Além disso, deu cotas de participação para alguns, criando a figura dos “interessados”, que depois se tornariam seus sócios – ao que se dizia na cidade, que “na Colombo quem entra empregado, sai patrão”.
Os produtos usados na confeitaria eram da melhor qualidade: vinham da Europa e dos Estados Unidos. O açúcar para a refinaria vinha de Pernambuco. No restaurante, os pratos misturavam a culinária portuguesa e a francesa. Inicialmente um espaço pequeno, logo começou a receber famílias, o que não era comum. Na verdade, a Colombo servia as famílias até um certo horário. Depois, era frequentada por coronéis e cocotes, um hábito da época!
Naquele tempo, os intelectuais frequentavam a confeitaria Paschoal. Uma desavença por causa do recheio de uma empada, fez com que Olavo Bilac não fosse mais ao local. A convite de Lebrão, o poeta tornou-se assíduo da Colombo e logo foi seguido por sua legião de seguidores. Assim, a Colombo passou a receber Machado de Assis, Chiquinha Gonzaga, Rui Barbosa e outros.
Logo, a confeitaria portuguesa havia se tornado o reduto da intelectualidade carioca! A roda de Bilac e seus amigos nas mesas da Colombo era uma das atrações da casa. Machado de Assis gostava de comer folhados com limonada e o poeta Bilac apreciava muito o empanado de camarão acompanhado de água Caxambu.
Em 1897 Lebrão promove a primeira grande reforma do local: a refinaria de açúcar e uma parte da fábrica de doces são transferidas para outro endereço. A reforma dura três anos e neste tempo a Colombo nunca fechou. Neste período, a confeitaria já faz jus à fama: fornece grandes refeições e piqueniques e tem um serviço de catering muitíssimo sofisticado que atende para banquetes no próprio espaço e nas residências da alta sociedade.
Após a reforma, a Colombo se torna um espaço de luxo. Iluminada pelas primeiras lâmpadas elétricas, passa a ser o local preferido e ponto de encontro da sociedade carioca. Suas vitrines douradas, aquecidas a gás, eram repletas de iguarias salgadas como empadinhas, croquetes, siris recheados, rissoles, ovos recheados, bolinhos de bacalhau e pastéis com os mais diversos recheios.
A doçaria era de ‘cair o queixo’: finíssimos bombons, sorvetes de pistache, morango, chocolate e baunilha eram acompanhados de chantilly, fios de ovos e vários tipos de biscoito, além do famoso sorvete de bacuri (fruta do norte do Brasil). Mil folhas, babas, éclairs e tortinhas mostravam a influência da confeitaria francesa e austríaca na Colombo, além de todos os doces conventuais portugueses, com uma quantidade imensurável de gemas e açúcar, que faziam do lugar uma referência de doceria da belle époque. Destacavam-se os pingos de tocha, as fatias da china, as trouxinhas, os quindins, as balas, os ninhos de ovos e, claro, os pastéis de nata. Doces de abacaxi e caju, bom-bocados de aipim e cajuzinhos davam o tempero brasileiro.
Em 1905 a Colombo começou a fabricar industrialmente doces em pasta e em compota. A marmelada, que era trazida de Portugal, passou a ser fabricada no Brasil. Pessegadas, bananadas, doce de goiaba e pastas de polpa de maçã e laranja integravam a oferta. Além destes produtos ali também se fazia a farinha de mandioca Suruí. Produzida no município de Magé, virou referência em farinha de mandioca de mesa. A Colombo se tornava cada vez mais requisitada para banquetes, inclusive fora do estado do Rio de Janeiro. Tinha também um leque de produtos importados da mais alta qualidade para venda, desde doces e salgados, finas iguarias, a vinhos, azeites e manteigas, passando por produtos de produção própria confeccionados industrialmente.
Em 1912 uma nova reforma é iniciada. Chegam os magníficos espelhos de cristal da Antuérpia que vão dar à Confeitaria Colombo uma luxuosa decoração e ar de riqueza – salões majestosos, lustres de cristal tcheco, mármore italiano e madeira de jacarandá - comparável às confeitarias de Paris ou Londres, e que fazem dela até hoje uma das 10 confeitarias mais bonitas do mundo. Nessa época também uma tradição inglesa chegará à Colombo: o five o´clock tea, com música tocada por uma pequena orquestra da casa, onde se notava o virtuosismo de Villa-Lobos ainda nos seus primórdios. O salão era inundado pelas torradas Petrópolis, casadinhos, bolinhos Rivadávia, uma infinidade de biscoitos, petit fours e chás variados, entre outras delícias.
Em 1922, uma outra reforma é feita, e é construído o salão do 2º andar, com a magnífica claraboia vinda da França, um dos ex libris da Colombo. Na ocasião, também ali é instalado um dos primeiros elevadores do Rio de Janeiro, em uso até hoje.
Com o passar dos anos, a Colombo continuou recebendo personalidades e fazendo os seus banquetes oficiais. É quando se transforma na maior fornecedora de banquetes da República brasileira. Além disso,suas mesas estavam sempre cheias. Serviu reis e rainhas, figuras eclesiásticas, presidentes da República e outras personalidades comemorando efemérides, como o Príncipe Alberto da Bélgica (1920), os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1922) no banquete de comemoração da primeira travessia aérea do Atlântico, Umberto di Savoia, da Itália (1924), o cardeal Eugênio Pacelli, futuro Papa Pio XII (1934) e a Rainha Elizabeth II, do Reino Unido (1968). Neste último caso, um banquete foi servido a bordo do iate real Britannia e a rainha ficou encantada com o sorvete de bacuri.
Banquetes de casamentos, bodas, batizados, piqueniques e serviço de catering nas casas da alta sociedade carioca eram uma constante na rotina da Colombo. Na parte do armazém, a Confeitaria tinha uma infinidade de produtos da mais alta qualidade. Quando chegava a época de Natal enfrentavam-se horas de filas para comprar o melhor bacalhau da cidade. A seleção de produtos era infindável, a marca própria da Colombo era da mais alta qualidade e a marmelada estrelava nas prateleiras.
Celebridades e divas do Carnaval, como Virgínia Lane, frequentavam as mesas da Colombo, e a confeitaria servia os menus da folia do Theatro Municipal.
Os anos se passaram e a Colombo foi mudando de proprietários e de frequentadores. Presidentes da República eram assíduos. Seu garçom mais antigo, Orlando Duque, conta algumas histórias: “O Juscelino Kubitscheck gostava de um carré de porco; Getúlio Vargas, um churrasco à gaúcha e o Tancredo Neves, um peixinho grelhado”. O segundo andar era reduto da República brasileira nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Eram momentos de glória, de encontros de personalidades e de glamour!
Hoje em dia as histórias continuam e as receitas tradicionais também. Os frequentadores habituais se juntam aos inúmeros turistas brasileiros e estrangeiros que querem ver esse templo da belle époque! Segundo Marcelo Teixeira, maître da casa, um dos momentos mais inesquecíveis que teve na Colombo, foi quando serviu um chá para Paulo Coelho no dia que o escritor entrou para a Academia Brasileira de Letras.
As mesas estão sempre lotadas. Nas vitrines, continuam os pastéis de nata, os pingos de tocha, os mil folhas e os éclairs “falando francês e português”, como idealizado por Manoel Lebrão, autor da famosa frase: “o cliente tem sempre razão”. Nas mesas, as torradas Petrópolis “perfumam” o ambiente, assim como os empanados de camarão, além, claro, das famosas latas azuis repletas dos famosos biscoitos, os leques da Colombo, que são confeccionadas artesanalmente até hoje!
Segundo Leonardo Fernandes, chef executivo da Colombo, hoje em dia a confeitaria tem dois ótimos restaurantes: o Cristóvão, com serviço de buffet e o Bilac, com serviço à la carte. Os salgados continuam sendo feitos artesanalmente, como há 125 anos; todas as cozinhas e os empanados são feitos e enrolados manualmente! A quantidade dos insumos impressiona: 2.500 ovos, 300 kg de farinha e 200 kg de açúcar gastos, mas é o necessário para abastecer a confeitaria com as suas iguarias.
Entrevistei alguns anônimos que estavam na Colombo e que, deslumbrados, me disseram: “a Colombo é um mito”, “todos vão a Colombo e os que nunca foram têm o sonho de um dia poderem conhecer”. Uma senhora que aparentava uns 70 anos e bebia vagarosamente um chá me disse: “Quando eu dava à luz, o meu marido levava de presente para mim, na clínica, umas caixinhas de gaufrettes que eu adorava! Pena que já não tenha para vender”. A confeitaria Colombo faz parte da história do Rio de Janeiro e nos leva a entrar no túnel do tempo dos sabores da alta cozinha carioca do início do século! Parabéns e vida longa para esta jovem senhora!
Confeitaria Colombo
Rua Gonçalves Dias, 32 - Centro – Rio de Janeiro/RJ | (21) 2505.1500 | De 2ª à 6ª feira: de 09:00 às 19:00h - Sábados e feriados: de 09:00 às 17:00h
Colombo Copacabana
Restaurante Café do Forte
Praça Cel. Eugênio Franco nº1 - Posto 6, Copacabana - RJ (dentro do forte de copacabana) | (21) 99603.2171 • (21) 3201.4049 | Terça-feira a domingo, das 10h às 20h.
Colombo Centro Cultural Banco do Brasil
Centro Cultural Banco do Brasil - R. Primeiro de Março, 66 - Centro, Rio de Janeiro | (21) 2283.2196 | De quarta à segunda, das 10h às 20h.
Colombo Galeão
Restaurante Aeroporto Galeão
Av. Vinte de Janeiro, s/nº • Ilha do Governador • Rio de Janeiro - Terminal 2 - 2º Andar - Embarque Internacional | Diariamente, das 05:00 às 00:00.
Receita
Receita: Torta Frangipane
Com compota de maçã e amêndoas.
INGREDIENTES:
Massa sablé
• 50 g. de manteiga sem sal
• 90 g. de açúcar confeiteiro
• 2 g. de sal
• 30 g. de farinha de amêndoas
• 1 Ovo
• 250 g. de Farinha de trigo
Compota de maçã
• 4 Maçãs médias
• 2 colheres de sopa de açúcar
• 100 ml de água
Frangipane
• 200 ml de creme de leite fresco
• 200 g de farinha de amêndoas
• 200 g de açúcar
• 2 ovos
Finalização
• 2 maçãs
• 100 g. de amêndoas laminadas e torradas
• 4 colheres de sopa de açúcar de confeiteiro
MODO DE PREPARO
Massa sablé
1. Misturar a manteiga com o açúcar, o sal e a farinha de amêndoas;
2. Acrescentar o ovo e a farinha de trigo e formar a massa;
3. Embrulhar a massa em papel-filme e levar à geladeira para descansar durante no mínimo 1 hora;
4. Abrir em tampo ligeiramente enfarinhado.
Compota de maçã
1. Descascar as maçãs e retirar as sementes;
2. Cortar em lâminas e colocar numa panela com a água e deixar ferver por 5 minutos e reservar.
Frangipane
Num bowl, misturar os ingredientes, formando uma pasta homogênea e reservar.
MONTAGEM DA TORTA
1. Abrir a massa numa assadeira de fundo removível de aproximadamente 23 cm de diâmetro;
2. Colocar a compota de maçã;
3. Descascar 2 maçãs em lâminas e colocar em cima da compota;
4. Cobrir a compota e as lâminas de maçã com o frangipane;
5. Levar ao forno préaquecido a 180 graus por aproximadamente 45 minutos a 60 minutos, ou até que a massa esteja cozida e o recheio firme.
FINALIZAÇÃO
1. Desenformar e colocar as amêndoas torradas;
2. Polvilhar o açúcar de confeiteiro e servir.