Em tempos de polêmica sobre a Inteligência Artificial e tantas tecnologias que não param de evoluir, as criptomoedas também se tornam o assunto do momento e aguçam a curiosidade. Apesar de circularem no mercado há uma década, elas ainda são vistas como novidade, e por isso, é normal que surjam dúvidas e principalmente, receios quanto a essa nova modalidade de pagamento, que em breve ganhará uma versão “prima” do nosso Real, o chamado Real Digital. E para esclarecer esse assunto, a LiV conversou com o contador e professor universitário André Charone. Confira!
Sabemos que o sistema monetário brasileiro passou por muitas mudanças nos últimos anos, principalmente com o Pix. Mas gostaríamos de saber, o que são exatamente as criptomoedas?
As criptomoedas são basicamente moedas eletrônicas ou digitais, então basicamente há toda a comodidade e facilidade de se negociar de forma digital, sem a necessidade do dinheiro físico. Em geral, elas também são independentes, portanto, não são regidas pelo Banco Central de um país específico. A bitcoin, por exemplo, é uma criptomoeda que tem essa característica, de ser independente e não é regulamentada pelos Estados Unidos, Japão ou Brasil, por exemplo.
As criptomoedas são de fato bem mais simples e menos burocráticas que uma moeda comum. Digamos que eu queira transferir um valor em dinheiro para alguém que mora no exterior, transferindo em dólar, iene ou peso, eu teria que passar por instituições financeiras e seria um processo muito mais burocrático, demorado e custoso também. A criptomoeda, por outro lado, permite uma transferência direta, independente do valor, sem ter um banco mediando essa transação ou países participando desse processo. É mais seguro também, pois há a criptografia que permite o controle através da tecnologia blockchain, evitando falsificação, duplicação, ou invasão de hackers.
A valorização desse tipo de moeda tem crescido bastante. Então muitas pessoas compram para investimento, mas é importante lembrar que ela é uma moeda. Embora digital, serve para pagamentos, recebimentos, mas no fim das contas, ainda é uma moeda. O Banco do Brasil, por exemplo, permite pagamento de impostos e outros tributos, usando criptomoedas. Há estabelecimentos físicos que também já aceitam.
A criação de uma criptomoeda nacional já está sendo pautada. Qual o impacto que ela teria no mercado brasileiro?
Na verdade, já existem algumas criptomoedas nacionais, embora muita gente ainda não saiba disso. O que está sendo estudado e colocado em testes é o Real Digital, que será uma criptomoeda um pouco diferente da bitcoin. Ele será regulamentado pelo Banco Central, e basicamente vai ser como o Real que já temos, só que em formato digital. Será possível ter ele no smartphone e fazer transações direto pela Nuvem. Não terá a vantagem de ser independente como a bitcoin, mas terá a digitalidade, facilidade e menor burocracia do que o dinheiro em espécie.
Como você vê o público com essa novidade? Ele estaria preparado?
Acho que a pandemia trouxe esse impacto de ter contato maior com o mundo virtual. Reuniões ainda são feitas digitais, o e commerce se expandiu, e a chegada do próprio Pix tornou as transações instantâneas muito mais comuns. Quem diria que há cinco anos atrás, você pagaria um bombom pelo Pix? Da mesma forma que a população aceitou e aderiu a esse formato de transação, é bem provável que também o faça com o Real Digital. Claro, se de fato seja algo de fácil manuseio e com segurança, como o Pix tem se mostrado. É algo que tende a pegar sim, e creio que será uma boa adição para a população de uma maneira geral.