
É natural que muitos artistas, depois de alcançado o estrelato, busquem retornar às suas origens. No novo disco da mineira Marina Sena, adequadamente intitulado Coisas Naturais, a proposta funciona mais ou menos dessa forma. Lançado ao fim de março, o álbum chega em um momento de maturidade artística, com sonoridade mais conectada à sua ancestralidade, sem deixar de dialogar com o presente.
Depois do hit Por Supuesto, do álbum de estreia De Primeira (2021), a natural de Taiobeiras se viu desafiada a entregar mais. O estrelato a levou por novos horizontes e festivais ao redor do país, e sua vivência na capital paulista resultou no vibrante e urbano Vício Inerente (2023), um trabalho assumidamente pop.
Em Coisas Naturais, Marina abandona os sintetizadores e efeitos vocais presentes neste trabalho anterior e dá um aceno às suas origens, além de explorar novos territórios. A vibe orgânica do projeto já pode ser sentida desde sua capa, com direção de arte assinada por Marcelo Jarosz. Uma sobreposição de “Marinas” em formato de colagem revela o universo íntimo da artista, com homenagens à Gal Costa, ao percussionista mineiro Marku Ribas e outras diversas referências que compõem o seu repertório.

O primeiro single do projeto, Numa Ilha, lançado no fim do ano passado, já dava sinais disso. Como descreveu Jon Pareles no New York Times, a faixa é uma “bachata dominicana” com toques caribenhos e um ar tropical, marcante neste projeto.
Para o álbum, a cantora esteve presente na companhia de produtores e músicos da Outra Banda da Lua, grupo no qual iniciou sua trajetória musical. Marina também esteve em uma imersão cultural na Europa, que resultou na faixa TOKITO, parceria com as artistas GAIA, da Itália, e Nenny, de Portugal. Como descreveu a artista ao PAPELPOP: “eu quis experimentar um lugar que não era a minha zona de conforto, ainda utilizando os ritmos brasileiros, mas, muitas vezes, de um jeito distorcido. Isso me ensinou muito.”

O resultado é um projeto que explora os mais diversos gêneros da música brasileira, como a MPB em Sem Lei e o rock psicodélico de Rita Lee em Anjo, um dos destaques do novo trabalho. Nestas faixas, é nítida a intenção de Marina em explorar as suas potencialidades vocais: ela faz falsete, alonga notas e brinca até mesmo com gritos. Um trabalho não somente de exploração, mas técnica e refinamento, no qual se percebe uma grande evolução artística.
Além de perpassar pela MPB, o disco apresenta outros gêneros, como o reggae, reggaeton, arrocha e até o lo-fi. Se Vício Inerente podia ser definido como uma completa coesão, aqui a artista abre lugar para o desconforto, o lugar sensível, mas sempre de uma maneira agradável e calorosa, como declara em Lua Cheia (“Eu me rendo / eu adoro”).
Marina Sena é um sinal da transformação na música brasileira, um nome que não se rotula, mas se acompanha para ver sempre o próximo passo imprevisível.