O assoalho alto para fugir da maré cheia, o colorido das salas, o carrinho de raspa-raspa passando na rua, a atmosfera dos bares de beira de estrada com as músicas marcantes e as frases desenhadas em embarcações que cortam os rios. Todos esses elementos juntos compõem parte da paisagem única que a floresta amazônica abriga e que será retratada na exposição “Caboclos da Amazônia – Arquitetura, Design, Música”, programada para começar em maio, em Belém, e depois seguir para as cidades de Marabá e Canaã dos Carajás.
A exposição foi idealizada pelo designer Carlos Alcantarino. Paraense radicado no Rio de Janeiro há cerca de quarenta anos, ele reuniu suas impressões sobre a Amazônia ao percorrer cidades do Marajó, como Afuá, e a ilha do Combu, em Belém. A ideia é mostrar que a arquitetura estranha aos padrões do sul tem uma identidade própria perceptível em vários elementos.
A
expectativa é que os paraenses se vejam nos cenários, sendo despertados para
sensações que, muitas vezes, se perdem na rotina do dia a dia. O próprio
Alcantarino revela que se deu conta do quanto a arquitetura e as demais formas
de representação da cultura amazônica são únicas, ao sair do Pará. “Esse povo
criou intuitivamente uma cultura local, com soluções criativas, tanto na
arquitetura totalmente integrada na natureza, como nos objetos do dia a dia, assando
desapercebido por nós paraenses”, observa.
“Eu ia muito a Belém para visitar minha família ou a trabalho. Comecei a andar pelo Combú e a ficar fascinado pela arquitetura. Quando você sai de um lugar e volta, a maneira de olhar muda. Antes, o que para mim era uma coisa normal passou a ser interessante. Ao andar pelo Ver-o-Peso, por exemplo, ver as barracas das erveiras, já achava lindo, mas passei a achar também interessante. Me pareciam lindas instalações coloridas e olfativas”, conta.
Para Alcantarino, “a exposição é esse novo olhar sobre as coisas corriqueiras, comuns que a gente tem no Pará que é a arquitetura natural do caboclo, o design natural do povo mais simples. Acho que tem uma estética e cultura muito interessantes. Intuitivamente, criaram toda uma arquitetura local, no design e na música também. O Pará tem uma cultura muito rica”.
Basílica – O circuito será aberto no dia 20
de maio, em Belém, em tenda montada especialmente para o evento, no
estacionamento ao lado da Basílica Santuário. Com área de 20 metros quadrados,
o local foi escolhido por ser considerado um ícone da cultura paraense
representada pelo Círio de Nazaré.
A tenda
abrigará oito salas, onde estarão distribuídas cerca de 400 peças. No hall, as
folhas espalhadas no chão, o som de bichos e as pinturas da parede simularão o
clima da floresta. Na sala das letras, será possível conhecer um pouco mais do
trabalho dos “abridores de letras” como são chamados os pintores de embarcações
esmerados em caprichar na pintura de frases.
Nas salas de
arquitetura e interiores, as fotos tiradas nas ilhas do Marajó e do Combú
remeterão às cores fortes das casas caboclas e arquitetura única. Na sala objetos,
estarão elementos do cotidiano amazônico apresentados em forma de instalações,
como os “papagaios” empinados nos céus de Belém.
Música – Alcantarino também vai apresentar
a trilha sonora que embala essa cultura. Ritmos diversos como carimbó,
guitarrada e festa de aparelhagem estarão presentes, onde os criadores
apresentam um pouco o caminho para chegar nesses sons tão familiar para nós
Escola – Como parte do projeto, será feita
parceria com algumas escolas para que os estudantes da rede pública visitem a
exposição, uma forma de fomentar a criação de plateia nos museus, galerias e
demais espaços. Haverá visita guiada, com palestra do arquiteto Alexandre
Siqueira.
Serviço –
Exposição
“Caboclos da Amazônia – Arquitetura, Design, Música”.
Abertura – 20 de maio, às 16h, no estacionamento
do Centro Social de Nazaré, ao lado Basílica Santuário, em Belém (PA).
Visitação – De terça-feira a domingo, das 16h
às 22h.
Cidades
do circuito itinerante – Belém, Marabá e Canaã dos Carajás.