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Imagens que atravessam

Reza a lenda que, na exibição do curta-metragem “L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat” (“A Chegada de um trem à Estação La Ciotat”), feito pelos irmãos Lumière em 1896, o público viveu fortes emoções. Isso porque a imagem do trem vindo em direção à câmera, parecendo “atravessar” a tela, teria assustado os espectadores, que àquela época ainda não entendiam completamente como funcionava o cinema.


A situação, que hoje pode soar cômica, deixa também um paralelo atual: no futuro, também serão ingênuas as nossas incertezas se uma imagem é real ou feita por inteligência artificial?


Verdade ou mito, fato é que o poder da imagem sempre se fez presente na história humana. Passando pelas pinturas, símbolo opulento de eras inteiras, chegamos à fotografia ainda registrando as elites, que embalsamaram suas imagens na posteridade.


E sobre aqueles que registraram o que tentaram apagar, o que sabemos? Pensando nisso, conversamos com fotógrafos que desafiam o status quo da imagem. Artistas que registram a Amazônia redesenhando o imaginário sobre essa terra e sua gente, revelando perspectivas plurais, sensíveis e autênticas.


Nesta incursão contamos com Elza Lima, que desde as histórias ouvidas na infância cria imagens-narrativas, sempre intimamente ligadas às águas e o povo; Luiz Braga, um verdadeiro alquimista da luz e cor na paisagem amazônica; Mariano Klautau Filho, que explora a melancolia dos ecossistemas urbanos fugindo de fórmulas prontas; Paula Sampaio, mineira radicada em Belém que começou no fotojornalismo até desaguar em registros sensíveis sobre o cotidiano de comunidades tradicionais e trabalhadores às margens dos projetos de exploração na Amazônia; e Walda Marques, retratista que bebe de fontes clássicas para criar novas possibilidades na exuberância que a cerca.


Aqui, não há ninguém “dando voz” a alguém; muito pelo contrário: estas fotos, por si só, contam histórias inteiras através de olhares, detalhes e cenários de uma ancestralidade milenar. Diferentemente do público dos Lumière, neste caso, talvez seja necessário prudência ao virar as próximas páginas. Pois estas imagens, sim, atravessam.


Elza Lima




“Minha narrativa fotográfica sempre esteve atrelada à vivência com a mata, o verde, os animais, a luz amazônica e de modo substancial com a água e sua interrelação com o homem.”


 “Incrédula, desvelo marcas de uma dominação pelo poder e dinheiro.”  


“Como parte desse universo amazônico, me deixo fluir, sempre atenta aos ensinamentos.”


  “[Ser fotógrafa na Amazônia] É estar perto do lugar que nunca deveríamos ter saído.”


“O lugar que mais gosto de estar é nas profundezas da Amazônia, onde ela se mostra real [...] Nesses lugares, vou aonde meu olhar me conduz.” 


“Aos poucos, percebo uma maior compreensão [do público] sobre nossa conexão com esse pulsar que vem da floresta e das nossas águas tão potentes.”



Elza Lima


Luiz Braga

 “As fotos vêm me encontrar. Eu penso que eu estou atrás delas, mas na verdade elas é que vêm.”

“Minha fotografia é toda movida a afeto.”

  • “Minha paixão pela cor vem da ancestralidade indígena, da arte plumária, do grafismo, da geometria, dos traçados que vêm do povo [de] Tefé, que são os ancestrais da minha avó e do meu pai.”

  • “A Amazônia e tudo o que ela representa é o que me move [...] É uma paixão infinita.”

  • “Ele [o brasileiro médio] não conhece a Amazônia. Ele não tem pela nossa Amazônia o mesmo pertencimento que ele tem por futebol, carnaval, samba, praia [...] A Amazônia é uma coisa quase que ficcional.”

  • “Se houvesse uma sensação de que nós fazemos de fato parte da alma do Brasil, talvez não se tivesse cometido, contra a Amazônia, os absurdos que continuam sendo cometidos.”

  • “Embora eu acredite na fotografia como uma ferramenta poética, eu acredito na poesia como uma grande ferramenta de formação de cidadania, de pertencimento de um lugar.”

  • “A cor foi a [minha] grande ferramenta de afirmação de identidade como artista e também uma ponte do meu olhar com essa visualidade rica que tem nas periferias ribeirinhas, de todas as cidades da Amazônia [...] Foi através da cor que eu me encontrei como artista.”


    Luiz Braga


Mariano Klautau


“Isso ainda pulsa no meu imaginário criativo: o espaço urbano atravessado pela memória de uma cidade antiga em confronto com sua urbanidade um tanto decadente.”


“Recuso a imagem clichê, romântica e idealizada que predomina numa ideia de arte exclusivamente ’amazônida’.”


“Nossa região tem espaços, tempos e distâncias muito vastas e isso influencia no meu modo de fotografar.”


“Procuro sempre os espaços da cidade como modos narrativos para a imagem, algo entre o cinema e a fotografia.”


“A fotografia experimentada como linguagem é o elemento principal para reverberar as questões ligadas ao seu lugar de origem.“


“A Amazônia é urbana também, e muito! [...] É necessário olharmos para as cidades como um ecossistema que precisa ser preservado tanto quanto às regiões naturais.”


Mariano Klautau Filho



Paula Sampaio


“Quando estou fotografando eu esqueço até quem eu sou.


“Para mim, a natureza detém a força espiritual que a gente tenta, de todas as formas, incorporar. A natureza é o espírito."

“Eu queria ser fotógrafa de guerra. Falei sobre essa minha intenção com um amigo [...], e ele me disse: ‘ser fotógrafa na Amazônia é uma guerra’. Ele tinha razão.”


“Penso a fotografia como uma escuta visual, com poder de comunicação e convencimento.”


“O preto e branco era só o que eu tinha, e essa condição se estendeu para o trabalho pessoal [...] Precisei desenvolver uma linguagem, passei a enxergar a vida em preto e branco (risos).“


“Eu só espero que todas essas histórias e imagens nossas não se afoguem nesse mar, o dos esquecidos.”

Paula Sampaio



Walda Marques


“Sou uma pessoa de imagem, sempre gostei de fotografia.”


“A gente é rico demais: de pessoas, de histórias, de comida, de raiz. A gente arrasa, né?”


“O estúdio é meu universo. É o lugar que eu crio e imagino.”


“Sou muito metida (risos). Acho maravilhoso ser daqui, poder ir a todos os lugares e dizer que eu sou daqui. A gente é diferente.”


“Mesmo que você use IA, você tem que partir de uma imagem. Pode ser um texto, mas os textos são imagens também.”


“Quero que as pessoas, ao verem uma foto minha, voem para dentro daquilo e pensem como eu cheguei ali. É importante a gente saber como o fotógrafo parou naquele momento.”


“Vemos a fotografia do instante parado, mas antes já era fotografia, e depois também.”


Walda Marques