No grupo de amigos, há médicos, empresários e professores. Eles garantem que estudar a fotografia é essencial para educar a maneira de ver, antes de qualquer coisa. Depois, é preciso soltar a imaginação e deixar o coração decidir o que move sua inspiração - sem deixar de lado os conselhos de quem entende dessa arte. Cada um tem a sua história particular com o fazer fotográfico; e, a partir delas, todos chegaram ao mesmo denominador comum: a missão de registrar tudo que os comove. Conheça-os.
Embora tenha conhecido cedo esse universo, Eduardo só começou a praticar intensivamente a arte com o advento das câmeras digitais e com os amigos com quem divide essa paixão. Diferente de alguns dos integrantes da ‘Confraria Imagética’, o médico de 62 anos não pretende mudar seu caminho. Para ele, a fotografia é um belo passatempo, que permite a reunião de outros fatores aos quais ele dá bastante valor: “distração, companheirismo, amizade; reunimos para conversar e até para fotografar. A fotografia nos une”.
Moisés uniu o útil ao agradável: ele já possuía a fábrica de joias com a qual trabalha até hoje e aproveitou para retratar seu negócio pelo próprio olhar – o que lhe rendeu bons registros e muito mais experiência. O conhecimento adquirido não só somou em sua carreira, mas em seu humor e em sua vida de maneira geral. “Participei do ‘Bem Belém’ [grupo de retratistas], foi quando encontrei grandes fotógrafos e amigos. Tive muitos professores lá, profissionais que deram dicas maravilhosas... Conheci muita gente boa. Aproveitei o conhecimento para aperfeiçoar meu trabalho”. Unger viu o interesse crescer e tomar um espaço cada vez maior no seu dia a dia. “A fotografia é um divisor de águas. Ela deixou de ser só um passatempo para ser uma paixão. Começou como uma brincadeira e hoje ocupa um tempo enorme na minha vida. Uso o que eu aprendi com a fotografia no meu trabalho, faço as fotos do meu material de joias, produzo tudo. Nossa fábrica produz joias e eu, os catálogos”.
Para Moisés, a dedicação cresceu junto com o sentimento de responsabilidade, que veio quando percebeu que era possível contar histórias ao mundo com sua maneira de enxergar. “A fotografia já deixou, há tempos, de ser apenas um lazer. É uma forma de apresentar para as pessoas a minha forma de olhar. Não existe nada que você consiga apresentar como você vê. É possível até descrever e estimular a imaginação do outro. Mas, ao fotografar, você mostra exatamente o que você viu, congela ali seu vislumbre. O grande prazer de todo fotógrafo é mostrar o seu trabalho”.
Terapia
Os pontos positivos não pararam por aí. Entre as alegrias que vieram com a fotografia, surgiu a capacidade de enxergar muito mais belezas do que antes. O que antes seria uma cena comum do cotidiano, sob as mais simples luzes ou situações corriqueiras, passou a possuir uma aura especial. “Hoje, eu olho para um lugar e vejo as coisas diferentes. O pôr do sol, um fim de tarde...sempre há uma poesia no momento”, avalia. E, apaixonado pela arte, ele aproveita para se declarar. “A fotografia me encantou na vida. Se eu não fosse o que sou, seria fotógrafo. Ela acaricia minha alma, mexe com meu íntimo. Vejo minhas fotos e eu gosto do que eu faço. Outras pessoas podem não ver com bons olhos, mas eu sim. Minha aspiração com a fotografia é só como hobby - minha profissão não permite mais que isso. Mas quero poder fotografar sempre”.
Para não perder nenhum registro, Carlos Alberto está sempre preparado: “não saio de casa sem câmera. Esqueço tudo, menos isso. Sem ela, me sinto desnudo. É algo que toma conta da vida da gente”, diz. Ele conta que já esbarrou em algumas dificuldades por isso, mas nem cogitou mudar a prática. “A única coisa ruim é a questão da segurança. Já fui assaltado com equipamento, por exemplo. Mas isso é um obstáculo, não um impedimento”.
Carlos já foi mentor de outros companheiros de lente e não cansa de recrutar pessoas. Ele acredita que esse é um dos segredos do aprendizado fotográfico: o compartilhamento de conhecimento e ideias. “O bom da fotografia é que o outro sempre tem algo a nos ensinar. Tento trazer as pessoas da minha área para vir fazer isso com a gente. Algumas já aderiram e estão gostando. O legal é poder sair junto e aprender cada vez mais uns com os outros”.
Condurú conta que quem tem esse hobby gosta de ter tudo o que é necessário para fazer o melhor retrato e, nesse caminho, quer abraçar o universo e fotografar tudo que vê pela frente. Apesar disso, seu afeto é mesmo pelas imagens de arquitetura, que não param de se multiplicar em sua coleção pessoal. “’Hobbista’ gosta de gastar dinheiro. Você vai trocando, inovando. Quando você começa, quer fotografar tudo; depois, sua preferência pessoal prevalece.
No meu caso, gosto das construções, dos prédios históricos. Acredito que, por ser engenheiro, o coração bate mais forte por fotografias de arquitetura”.
Professor universitário, Neto vê sua atividade como a melhor forma de contar suas histórias – que não param por aí: se transformam em projetos futuros e até em possibilidades profissionais para depois da aposentadoria. O motivo? Qualidade de vida. “A fotografia é uma forma de eu contar histórias. Eu tenho um blog onde coloco minhas fotos, até criei um projeto. A ideia é visualizar fotos antigas de Belém pareadas com imagens atuais, minhas, para mostrar o que era antes e o que é hoje. Sonho em transformar isso em livro com a ajuda de meu amigo Aurélio Meira. Ano que vem, me aposento como professor. Quem sabe não transformo meu hobby em profissão? Sem maiores preocupações, com outra fonte de renda, passar realmente a produzir e a vender”, planeja.
O que é inegável na fotografia é o poder dos vínculos que ela cria. Condurú acredita que os laços alimentados por este interesse em comum só tem a acrescentar para todos os envolvidos. “Nós ligamos e combinamos saídas para fotografar, conversar... Já alugamos um barco para atravessar e clicar outras paisagens. E tem outros grupos aonde vamos eventualmente, em que os jovens são maioria e nós somos como os vovôs”, brinca. “É interessante essa interação. Eu pergunto, por exemplo, ‘como é que vocês fazem para cobrar?’. Eu não faço nenhuma ideia. É importante a convivência para diversificar o olhar e entender mais de fotografia”.
Para o professor e engenheiro, fotografar depende muito de esforço pessoal – mas é no contato com o outro que quem tá por trás das lentes se engrandece. “É preciso estudar muito, fotografar demais e conviver bastante com fotógrafos, profissionais ou ‘hobbistas’. Esse é o grande segredo, porque você ganha empolgação. Quando eu comecei, não sabia nem onde ligar a câmera. Com uma pessoa auxiliando é mais fácil. Cria-se um encantamento, um entusiasmo. Compartilhar conhecimento, e multiplicar isso, é essencial”.