Quando se fala na França, é inevitável não pensar em Paris e nos seus pontos turísticos mais célebres: a magistral Torre Eiffel, o histórico Museu do Louvre e o romântico Arco do Triunfo. Sim, é bem verdade que tudo na capital francesa é muito encantador e poético e não é à toa que ela é um dos destinos mais procurados do mundo com aproximadamente 13,92 milhões de turistas por ano.
No entanto, a região da Champagne, no nordeste da França, conquistou o coração deste [já encantado] jornalista de uma forma avassaladora. Épernay e Reims são as duas cidades mais importantes de região e ficam a apenas 45 minutos de Paris – se, no caso, você optar pelo TGV [Train de Grande Vitesse. Traduzindo: trem de alta velocidade] que custa, em média, 20 euros. Mas a opção de carro também é viável já que são 145 km partindo de Paris em uma autoestrada excelente. A viagem é tranquila e muito relaxante, a paisagem vai se modificando instantaneamente e as infinitas vinícolas vão surgindo no horizonte.
A cultura do vinho é bastante difundida no local e por ano são produzidos aproximadamente 200 milhões de garrafas de champagne – dos quais 70% são exportados para os quatro cantos do mundo. Quando eu comentava que iria escrever uma matéria para uma revista brasileira, fui advertido algumas vezes para não esquecer a seguinte informação: “Todo champagne é um espumante, mas nem todo espumante é um champagne”. Anotado.
Nesta região, concentram-se os endereços dos mais conhecidos produtores de vinhos. Você pode visitar as caves [corredores subterrâneos onde as garrafas ficam armazenadas] da Ruinart, Taittinger, Pommery, Veuve Clicquot, Marcel, Möet Chandon, Mercier, entre outras.
La Maison Mercier
Visitei uma das mais tradicionais e inovadoras caves da região: La Maison Mercier (localizada na cidade de Épernay). Fundada em 1858, esta marca pertence ao grupo LVMH [LVMH Moët Hennessy • Louis Vuitton S.A.], um grupo francês especializado em artigos de luxo, que também está à frente de nomes como: Moët & Chandon, Veuve Clicquot, Dior, Louis Vuitton e Parfums Givenchy.
Fundada por Eugène Mercier, foram necessários seis anos para construir impressionantes 18 quilômetros de túneis subterrâneos que abrigam os incontáveis champagnes. Se a cave está localizada em Épernay, ela sempre manteve uma estreita relação com Paris. Uma vez que foi construída, em 1871, uma ligação ferroviária direta que assegura o encaminhamento dos champagnes para a Cidade-Luz.
Em um elevador panorâmico, os visitantes descem por mais de 30 metros pela terra e percorrem algumas das 47 galerias construídas [hoje classificadas como monumento histórico] em uma espécie de carrinho elétrico. O cheiro de madeira é bastante marcante e o sentimento de revisitar uma época remota é inevitável. A guia explica que para a maturação do champagne ocorrer de forma precisa as garrafas necessitam descansar na escuridão em uma temperatura de 10º graus.
Os champagnes normais demoram geralmente três anos para serem comercializados. Eles são produzidos obrigatoriamente à base de três uvas distintas: chardonnay, pinot noir e pinot meunier. A bebida foi descoberta há mais de 300 anos por um monge beneditino: Dom Pérignon.
Para manter a qualidade, a colheita da uva tem que ser obrigatoriamente feita manualmente, por determinação do órgão de fiscalização de produção francesa: o AOC (Denominação de Origem Controlada, na sigla em francês). Esta mesma entidade conseguiu proibir que qualquer outro espumante do mundo seja chamado de champagne.
Projetadas e decoradas para impressionar os visitantes, as adegas Mercier permanecem até hoje entre as mais visitadas na região, com mais de 100 mil visitantes por ano. Conhecido por seu espírito inovador e visionário, Eugène Mercier construiu o maior barril do mundo (20 mil kg - vazio, com capacidade para 200 mil champagnes), além disso, produziu o primeiro filme publicitário da história, que mostrava o processo de produção da bebida. As visitas têm hora marcada e uma deliciosa degustação de champagne finaliza o passeio.
Depois de visitar as caves, outro passeio obrigatório é na Catedral de Notre-Dame de Reims. Edificada no século XIII, 25 reis foram coroados em suas dependências, entre Luís VII e Carlos X (1825). Com 800 anos de história, a catedral é um dos edifícios góticos mais importantes da França, além se ser considerada como patrimônio da humanidade.
No mais, aproveite a hospitalidade das pessoas sempre dispostas a conversar, se perca nas encantadoras ruas de pedra e não se esqueça de degustar uma irresistível taça do autêntico champagne. Au revoir!
“Estou bebendo estrelas!”
Dom Pérignon, nosso “Santo” protetor - Se São Afonso é o santo cervejeiro, nós, da Revista Leal Moreira, também temos nossas razões para acreditar que Dom Pérignon merece um crédito a mais.
Ao monge cego é creditada a descoberta do método Champenoise. Quase contemporâneo de Luís XIV, Pierre Pérignon não era viticultor, nem alquimista, mas depois de uma peregrinação à Abadia de Saint Hillaire, ele descobriu o método de vinificação dos vinhos “borbulhantes”. “Estou bebendo estrelas” teria dito Pérignon, monge beneditino, ao beber um champagne pela primeira vez.
A história por trás do mito é mais obscura, defendem os especialistas e historiadores. Eles afirmam que Pierre Pérignon tentou, durante boa parte de sua vida, acabar com a espuma que seus vinhos produziam. “Dão prejuízo!”, teria confidenciado a outro monge. Em um período dominado por vinhos tintos, a tentativa de Pérignon se justificava: ele queria produzir excelentes vinhos brancos a partir de uvas tintas, como a Pinot Noir.
Foi esse “santo” que definiu o modus operandi que seria usado até os dias de hoje: uvas tintas para produzir vinhos brancos.
Particularmente, preferimos a versão mais poética da história. Afinal, quem não deseja experimentar o gosto das estrelas?
Como chegar
Região da Champagne
Épernay fica a 26 km de Reims e a 146 km de Paris.
Saindo da capital francesa, as passagens podem ser compradas na hora na Gare de L’Est (linha 4 do metrô). Para ir, os melhores horários são 7h57 e 8h57. Para voltar, 17h15 ou 20h15.
Vale lembrar que antes de chegar na Gare D’Epernay, o trem faz algumas paradas. Nesse caso, é bom ficar atento para não perder a hora do desembarcar.
Para chegar até Reims, basta voltar para a estação e pegar um trem com um trajeto de 15 minutos. Muito fácil.
La Maison Mercier
La Maison Mercier oferece recepções privadas e originais para almoços e jantares com uma pitada de história local, além dos passeios nas intermináveis caves.
Passeio tradicional:
De 13 euros a 25 euros de acordo com a quantidade de champagne na degustação (visita guiada).
Duração: 1h20.
Para obter mais informações ou agendar visita:
Champagne Mercier
cmaus@moet.fr / / 33 (0) 3 26 51 22 24
https://www.champagnemercier.fr
Dicas para servir e degustar um Champagne
1 - Cada vinho tem sua devida taça e para o champagne não é diferente. A taça adequada é conhecida pelo nome de flûte (ou flauta). Encontramos taças baixas e largas sendo vendidas como de Champagne. No entanto, esse tipo de taça dificulta a formação de espuma e faz com que os aromas se dispersem no ar, além disso, a sua baixa altura não permite o correto desprendimento das borbulhas.
2 - Segure a taça pela haste, pois minimiza o aquecimento do líquido quando em contato com a mão.
3 - Temperatura ideal de serviço: entre 8° e 10°. Importante levar em conta a idade do champagane. Para um champagne jovem sirva a 8°C, enquanto que um millésimé (um raro) se bebe preferencialmente a 10°C.
4 – Sirva o champagne em duas vezes e encha a taça até dois terços para melhor sentir seus aromas.
5 - O champagne normalmente combina com uma diversidade de alimentos e é uma bebida que pode ser degustada durante toda a refeição. Porém, ao contrário do que se imagina, ela não harmoniza com chocolates ou sobremesas à base de chocolate. É tudo uma questão de reação química entre os dois ingredientes. Portanto, se você pretende servir uma sobremesa à base de chocolate, priorize outro tipo de vinho ou procure um champagne que tenha sido elaborado e produzido especificamente para esse tipo de harmonização, caso contrário o resultado pode ser decepcionante.